A vendedora Lidiane Gomes da Silva foi a mais recente vítima de feminicídio no Estado. A jovem foi assassinada a tiros em um shopping de Maracanaú, ontem. O atirador foi seu ex-namorado, que se matou.
Detectar a relação abusiva desde o início e pedir logo ajuda é primordial para romper com o ciclo de violência FOTO: SAULO ROBERTO
Lidiane Gomes da Silva, 22, é a mais recente vítima, no Ceará, de um ciclo de violência doméstica que culminou em sua instância máxima: assassinato. Morta pelo ex-namorado em um shopping no município de Maracanaú,
ontem, a jovem encorpa estatísticas cada vez mais preocupantes, a de
mortes violentas por razão de gênero, ou seja, pelo fato de ser mulher.
Assim se constitui o crime de feminicídio.
No geral, o número de assassinato de mulheres vem crescendo no Ceará.
Entre 2017 e 2018, o aumento foi de pelo menos 25%, segundo
levantamento parcial da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Das 457 mortes registradas no ano passado (dados de dezembro não
finalizados), 24 foram classificadas como feminicídio. Os números, no
entanto, podem ser ainda maiores com a consolidação dos dados pela
Pasta.
O crime que vitimou a vendedora no seu local de trabalho teve como
motivação o inconformismo pelo rompimento da relação, aponta
a investigação. Em relato da própria vítima durante conversa - obtida
pelo Sistema Verdes Mares- tida com um amigo por rede social, ela dizia ter sofrido ameaças do ex-companheiro.
Alighiery Silva de Oliveira, 25, trabalhava como auxiliar administrativo terceirizado no 24º Distrito Policial e furtou uma arma da unidade para cometer o crime. O atirador se matou em seguida.
Casos como o de Lidiane quase sempre decorrem de um ciclo de
violência doméstica já em andamento pelos agressores, segundo explica a
superintendente do Instituto Maria da Penha, Conceição
de Maria Mendes.
“O feminicídio é um crime anunciado, cometido
unicamente pelo fato da vítima ser mulher, dela estar numa relação de
posse, numa relação violenta, abusiva, em que acontecem muitas ameaças,
cerceamento do direito de ir e vir, muitas vezes do direito de
trabalhar, e ela é afastada dos seus grupos de convívio. É uma relação
em que ela não pode se desenvolver. Começa com uma violência psicológica
que vai aumentando e culmina na física”, destaca.
Políticas Públicas
Como forma de prevenção, a especialista reforça a importância da
criação de políticas públicas mais efetivas e voltadas para o
atendimento à mulher em situação de violência, em que, por meio destas,
as vítimas possam reconhecer o cenário de abuso e buscar a proteção
necessária.
Como, por exemplo, os serviços prestados pelo Centro de Referência da Mulher, segundo aponta Mendes.
“Lá ela vai entender que nunca pode imaginar uma ameaça como da boca
para fora. É num centro de referência que a mulher vai entender estar
passando por um ciclo de violência que pode terminar em feminicídio.
A
violência não é somente física. A partir da psicológica ela já pode
fazer uma denúncia, registrar um Boletim de Ocorrência ou solicitar uma
medida protetiva. Detectar a relação abusiva desde o início e pedir logo
ajuda é primordial pra romper com esse ciclo”, afirma.
Considerada um importante marco na luta das mulheres contra a violência, a Lei do Feminicídio
(13.104/2015) esbarra, contudo, num sistema ainda deficitário de
acolhimento e proteção, segundo aponta a superintendente do Instituto
Maria da Penha.
Uma das principais falhas está na centralização das políticas públicas nas capitais. “O Ceará só tem 10 delegacias da mulher.
Existe uma lei estadual que diz que, a partir de 60 mil habitantes,
pode-se ter uma delegacia especializada, então temos um déficit de
aproximadamente 17 municípios que poderiam ter e não têm. Outros
equipamentos, como o próprio Centro de Referência da Mulher, é para
existir em todas as cidades.
Por menores que sejam, as prefeituras devem
incluir esse equipamento, seja dentro de um CRAS, de um posto de saúde
ou hospital, para que ela seja orientada a como romper o ciclo da
violência, porque sozinha em muitos casos ela não consegue”, fala.
Por
Renato Bezerra,
renato.bezerra@diariodonordeste.com.br
Fonte Diário do Nordeste
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