Desde 1989 não há tantos nomes colocados para a disputa pela Presidência
RIO — A oito meses das eleições presidenciais, mais de duas dezenas de pré-candidatos já colocaram o bloco na rua sonhando com o Palácio do Planalto.
O desfile de nomes é variado, retrato de um cenário de indefinição
semelhante à disputa de 1989, quando 22 candidatos participaram da
corrida eleitoral.
O pleito de outubro pode ter nas urnas representantes
dos mais variados estilos: além dos políticos tradicionais, estão se
mobilizando apresentadores de TV, banqueiros, um líder sem-teto, um cabo
bombeiro e até um cirurgião plástico exótico.
O bloco dos novatos, formado por aqueles
que nunca concorreram ao Executivo, tem como mais inusitado
representante o médico Dr. Robert Rey, mais conhecido como Dr. Hollywood
devido às cirurgias plásticas que já fez em diversas celebridades.
Ele
anunciou a intenção de ser candidato caso consiga refundar o Prona,
partido que lançou o folclórico Enéas Carneiro à Presidência nos anos
1990.
Na semana passada, Rey gravou vídeo na página oficial da legenda
pregando um Brasil “mais conservador”.
Sua página no Facebook mistura dicas
para dar fim às olheiras e à calvície com ideias, sem qualquer
detalhamento programático, para “trazer o sistema americano para escolas
brasileiras”.
Rey também já defendeu, em entrevista, que o hino
nacional toque todo dia de manhã em cadeia nacional de rádio e TV.
Convites à espera de resposta
Propostas excêntricas também estão nos
discursos de outros novatos.
Repleto de menções a Deus, o discurso do
deputado federal Cabo Daciolo, pré-candidato pelo Avante, sai
frequentemente em defesa da intervenção militar como uma solução para o
país.
No ano passado, o bombeiro chegou a defender o fechamento do
Congresso Nacional, onde “só tem corruptos”.
Já a ex-apresentadora de televisão
Valéria Monteiro (PMN) tem pregado medidas como licença maternidade de
três anos e isenção de Imposto de Renda para quem ganha menos de R$
3.700.
O impacto fiscal das ideias, contudo, não foi calculado pela
pré-candidata.
— Esses candidatos não têm visibilidade
eleitoral, mas acabam aparecendo com suas atividades um tanto
folclóricas.
As eleições de 1989 e a de 2018 têm uma relação no que se
refere à possibilidade de muitas candidaturas, mas a conjuntura política
é muito diferente. No final dos anos 1980, a esperança era muito
grande.
Agora, há o pessimismo generalizado, as pessoas estão
desencantadas com o sistema político — diz o cientista político Paulo
Baía, da UFRJ.
Ao contrário de Rey, Daciolo e Valéria,
apoiados por partidos nanicos, há ainda os novatos com maior relevância,
que permanecem com o futuro indefinido.
Caso do apresentador Luciano
Huck e do ex-presidente Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa,
cortejados pelo PPS e PSB, respectivamente.
Embora Huck tenha conversas
periódicas com economistas liberais, seu discurso de forte apelo social
tem potencial de crescimento em segmentos lulistas, apontam institutos
de pesquisa.
Já Barbosa mantém-se em silêncio sobre o que seriam seus
projetos presidenciais, mas sua plataforma, apontam os socialistas,
estaria focada na sua trajetória pública de combate à corrupção.
Guilherme Boulos, que estuda a filiação
ao PSOL, fecha a lista de novatos em dúvida. Embora não admita, a
candidatura do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) está
diretamente relacionada ao futuro político do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT). Boulos dividiria votos da esquerda com a deputada
estadual no Rio Grande do Sul Manuela D’Ávila (PCdoB).
— Não tem um candidato competitivo no
cenário eleitoral, e isso estimula o lançamento de várias
pré-candidaturas. Quando existe este nome, os partidos menores tendem a
ser atraídos pela coalizão.
Tem que ter tempo de TV para haver um bom
desempenho — explica Fernando Antonio Azevedo, cientista político da
Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).
O bloco dos indefinidos também contempla
nomes da base do governo, como o ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles (PSD), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e o
presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro (PSC).
Os três sonham em
ser o nome que unificaria o centro político para acabar com a
polarização entre Lula e o deputado Jair Bolsonaro, em negociações para
migrar para o PSL.
No mesmo espectro político, também apresentam-se João
Amoêdo (Novo), com carreira ligada ao mercado financeiro, e o senador
Álvaro Dias (Podemos).
Estão no páreo ainda os veteranos que já
concorreram à Presidência em outras ocasiões: a ex-senadora Marina
Silva (Rede), que disputou pelo PV em 2010 e pelo PSB em 2014; o
governador Geraldo Alckmin, candidato em 2006 pelo PSDB; o ex-governador
do Ceará Ciro Gomes (PDT), que concorreu em 1998 e 2002; e o senador
Cristovam Buarque, que disputou em 2006.
A campanha também terá velhos conhecidos
do eleitorado como Eymael (PSDC), dono do jingle chiclete
“Ey-Ey-Eymael, um democrata cristão”, e Levy Fidelix, autor do
controverso projeto do “aerotrem”. Sem contar o ex-presidente Fernando
Collor (PTC), que, em discurso na semana passada, disse estar “diante da
retomada de uma missão”.
Slogan esse que, aliás, já aparece na foto de
capa de sua página no Facebook. (POR JULIANA CASTRO/O GLOBO
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