
Após saber do projeto de
construção de um “shopping popular”, nas adjacências do Palácio
Diocesano, o bispo emérito de Petrolina Dom Frei Paulo Cardoso
detona alguns administradores e em tom de desabafo, se diz “amargurado”
com tal ideia. Acompanhe na íntegra a Carta Aberta enviada pelo pastor.
Ao clero da Diocese de Petrolina. Caros irmãos no Sacerdócio ministerial.
1. Profundamente amargurado e
entristecido, tomei conhecimento de que se pretende levar adiante o
projeto de construção de um “shopping popular”, nas adjacências do
Palácio Diocesano. As imagens do projeto continuam a circular
abundantemente na internet. Já se anuncia o início imediato das vendas
dos “boxes”. As frondosas árvores do “quintal” do Palácio já foram
destruídas.
2. Inicialmente, cheguei a pensar na
conveniência de publicar uma “Carta Aberta” ao Clero, às autoridades
constituídas e à sociedade petrolinense, sobretudo a população católica.
Mas depois achei mais conveniente dirigir-me primeiro ao Clero.
3. Todos sabem de minha posição,
radicalmente contrária, desde que, há dois anos ou mais, começaram a
circular notícias a respeito. Senti-me no direito e na obrigação de
externar minha opinião ao então Bispo diocesano, ao próprio clero e ao
Colégio dos Consultores.
4. As razões por mim apresentadas são já
conhecidas. Entre outras, relembraria: a) O alto significado histórico e
afetivo do Palácio para a Diocese e para toda a sociedade petrolinense.
O Palácio e a Catedral, sonhos realizados pelo grande Dom Antônio
Malan, constituem como que uma única coisa. b) Se, para atender às
necessidades da Diocese, o plano era construir algo, dispúnhamos e
dispomos de duas áreas excelentes e livres, muito bem localizadas: a
área adjacente e contígua ao “Palacinho”, e a ampla área de terreno do
Pio XI, que dá para a Av. Guararapes.
5. O atual projeto que se está levando a
cabo, não recebeu a aprovação da Secretaria de Obras, por razões
técnicas e evidentes. Chegou-se mesmo a denominar de “camelódromo” o que
se estava propondo construir.
6. Cheguei a encaminhar Ofício ao Prefeito anterior, solicitando a não-aprovação do projeto.
7. Repito que, se o Palácio é propriedade da Diocese, constitui também um patrimônio da comunidade, assim como a Catedral.
8. O Palácio, figura na Lei Orgânica do
Município, como primeiro dos edifícios a serem tombados pelo Poder
executivo. Projeto de tal importância, a meu ver, deveria ter passado
pela Câmara de Vereadores, e também pelo crivo da própria comunidade, do
clero, e recebido aprovação do Colégio de Consultores, para sua
validade e legitimidade.
9. A atual crise pela qual passa o país,
sem perspectiva de melhora, tem ocasionando o fechamento de tantas
lojas e casas comerciais no centro da cidade. É sensato pensar na
construção dos boxes projetados?
10.O que virá a significar tal projeto,
em termos de irreparável agressão ao próprio Palácio – construído em
área doada, quando da criação da Diocese, para o fim muito claro e
específico de residência do Bispo? É bom ressaltar que o atual projeto
tornará inviável a residência ali de um futuro bispo.
11.Entre outras, são estas as razões que
sempre me levaram a opor-me radicalmente a tal projeto. Achei que,
mesmo sendo emérito, não podia me omitir. Assim como acho que o primeiro
a não poder omitir-se seria o próprio clero! A história haverá de nos
cobrar.
Pedindo desculpas, mas achei-me no direito de poder partilhar
estas preocupações. Não nos faltem as luzes do Espírito Santo, pela
intercessão da Senhora e Rainha dos Anjos.
Fraternalmente, Dom Frei Paulo Cardoso
Bispo emérito de Petrolina.
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